"No início de julho passado [Urbano Tavares Rodrigues] fez chegar à sua editora, na Dom Quixote, aquele que será o seu último livro, 'Nenhuma Vida', a publicar ainda este ano", lê-se no comunidado da LeYa/Publicações D. Quixote..A editora cita o prefácio da obra, escrito por Urbano Tavares Rodrigues, em que, a dada altura, escreve: "Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz"..No mesmo comunicado, as Publicações D. Quixote e grupo editorial manifestam a sua "mais profunda tristeza" pelo falecimento do escritor.."O desaparecimento de Urbano, a poucos meses de completar 90 anos, deixa-nos a todos mais pobres: perde-se um grande escritor, com uma obra vastíssima e inigualável; um intelectual de voz firme e convicta, capaz de acompanhar a evolução dos tempos e do mundo; um homem de uma coragem sem igual, resistente ao regime de Salazar, contra o qual lutou activamente, pagando, em alguns casos, um preço demasiado alto por tal ousadia".."Com a morte de Urbano Tavares Rodrigues morre também um grande humanista, que acreditou, até ao fim, na bondade do ser humano", lê-se no mesmo comunicado.."Urbano escreveu, leu, apresentou livros, publicou artigos em jornais, trabalhou, enfim, até ao fim da sua vida. É, também por isso, um exemplo para todos", remata o comunicado da LeYa/Publicações D. Quixote.."A Imensa Boca Dessa Angústia e Outras Histórias" foi o seu último livro publicado, em abril passado..Entre cerca dos cem títulos que publicou, em mais de 60 anos de carreira literária, destacam-se "Bastardos do Sol", "Dissolução", "Estrada de morrer", "Agosto no Cairo: 1956", "O Tema da Morte na Moderna Poesia Portuguesa", integrado depois em "O Tema da Morte: Ensaios", "O Algarve na Obra de Teixeira Gomes", "A Saudade na Poesia Portuguesa", "A Natureza do Ato Criador", "O último dia e o primeiro", "Contos da solidão", "Os insubmissos", "Tempo de cinzas", "Torres Milenários", "Bastardos do Sol", "O Algarve em poema", "Os Cadernos Secretos do Prior do Crato"..Tavares Rodrigues recebeu variados galardões literários, nomeadamente o Prémio Ricardo Malheiros, por "Uma Pedrada no Charco", e ainda os prémios da Associação Internacional de Críticos Literários, da Imprensa Cultural, Vida Literária e o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco..Urbano Tavares Rodrigues escreveu em diversas revistas e jornais, designadamente no Bulletin des Études Portugaises, na revista Colóquio-Letras, no Jornal de Letras, na Vértice, no Nouvel Ovservateur, entre outros. Foi diretor da revista Europa e crítico de teatro nos jornais O Século e Diário de Lisboa..Urbano Tavares Rodrigues, por razões políticas, foi impedido de lecionar em Portugal, tendo-se exilado no estrangeiro. Desempenhou, entre outras funções, as de leitor de português nas universidades francesas de Montpellier, Aix e na Sorbonne, em Paris..Após o 25 de Abril de 1974, que instaurou a liberdade de expressão e a democracia em Portugal, regressou ao país. Em 1984 doutorou-se em Literatura, com uma tese sobre a obra de Manuel Teixeira Gomes. Em 1993 jubilou-se como professor catedrático..Desempenhou também funções docentes na Universidade Autónoma de Lisboa e foi membro das Academias de Ciências de Lisboa e Brasileira de Letras.